A maturidade na fé
03/09/15

 

Alguns meses atrás fomos todos surpreendidos com as terríveis notícias do martírio de dois grupos de cristãos na Líbia, exterminados cruelmente pelo grupo terrorista “Estado Islâmico”. O horror das imagens veiculadas pela Internet não deixou indiferente nem mesmo a mídia laicista do ocidente, que na grande maioria dos casos de ataques a cristãos em países de maioria muçulmana se cala vergonhosamente.

Mas o que mais impressiona nessas tristes e lamentáveis imagens veiculadas pelos fanáticos terroristas, não é o assassinato cruel e desumano que sofreram aqueles homens de fé, mas sim o semblante sereno e confiante daqueles bravos cristãos coptas e etíopes. Podemos dizer que aqueles nossos irmãos mártires do Egito e da Etiópia, alcançaram um elevado grau de maturidade na fé que nos faz todos aqui no ocidente, onde a maioria da população ainda se declara cristã, nos sentirmos envergonhados por não termos ainda alcançado tão elevada estatura na vivência das virtudes cristãs, a ponto de ainda estarmos longe de darmos a nossa própria vida por amor a Nosso Senhor Jesus Cristo. É claro que entre nós há muitas pessoas que já atingiram a santidade em vida e não hesitariam em testemunharem a fé pagando o preço da própria vida, mas temos que admitir que são ainda uma minoria.

É bem possível que nós, cristãos ocidentais, diante de uma situação semelhante a que vivenciaram nossos irmãos na Líbia, negaríamos amedrontados a nossa fé para salvar a nossa vida. Ao menos acredito que a maioria de nós agiria assim, como agiu São Pedro ao negar Jesus por três vezes antes do galo cantar (conf. Mc 14, 66-72).

Essa passagem do Evangelho de São Marcos, que encontra paralelos nos demais Evangelhos sinóticos e no Evangelho de São João, num primeiro momento pode nos tranqüilizar, pois se até Pedro que era o líder do colégio apostólico e futuro chefe da Igreja de Cristo, negou o Senhor diante de seus inimigos; muito mais nós, pobres e miseráveis pecadores que somos, poderemos também nos acovardar diante de tão dura provação.

Mas num segundo momento, ao realizarmos uma atenta e meditada leitura dessa passagem do Evangelho, constatamos que a covarde atitude de Pedro, ao negar por três vezes o Senhor, não é uma atitude digna de um cristão maduro na fé. Vemos que São Pedro ao se lembrar das palavras de Jesus que havia predito sua negação, se pôs a chorar, pois sabia que havia traído o Senhor.

E interpelados por essa passagem evangélica devemos fazer diante de Deus um sério exame de consciência e nos perguntarmos sinceramente: “Como anda minha vida cristã? Tenho tido a coragem de testemunhar minha fé diante de situações adversas? Diante de situações e contextos onde a fé e a Igreja Católica são ridicularizadas, eu tenho me levantado para defender o depósito de fé que me foi confiado pelo próprio Senhor?”

São algumas perguntas simples e diretas que devemos nos fazer todos os dias durante as nossas orações pessoais, e se por acaso constatarmos que negamos o Senhor em algum momento de nossas vidas, não devemos ter vergonha de pedir perdão a Deus pelas vezes que Lhe fomos infiéis.

É claro que aqui no ocidente, incluindo o Brasil, ainda não se chegou a haver atitudes extremistas contra os cristãos como acontece infelizmente com nossos irmãos no oriente. Mas como nos ensina sabiamente nosso querido Papa Emérito Bento XVI, aqui no ocidente vivemos uma situação de martírio marcado pela ridicularização, onde a fé cristã e a Santa Mãe Igreja Católica se tornaram motivos de piada e escárnio para muitos, e muitos de nossos irmãos na fé, inclusive muitos de nossos irmãos separados, são desprezados e caluniados por buscarem ter uma vida coerente com os valores do Evangelho, chegando até mesmo em muitos casos a perderem seus empregos ou serem processados.

E mesmo vivendo uma situação de martírio sem derramamento de sangue, onde o preço para sermos fiéis ao Senhor é passarmos por situações de humilhação e ridicularização, a maioria de nós cristãos ocidentais ainda negamos o Senhor diante de tão bela oportunidade de testemunharmos nossa fé, que é dom precioso de Deus, perante os incrédulos.

Nosso Senhor Jesus Cristo só nos pede pequenas contrariedades em nossa caminhada de discípulos-missionários aqui no ocidente, diferentemente de nossos irmãos no oriente, particularmente na Síria, no Iraque em muitos outros países do Oriente Médio, da Ásia e do norte da África, que estão sofrendo heroicamente um duro e cruel martírio de sangue.

E para provar que não estou exagerando e falando bobagens, queria pedir que meditassem esse breve fato da vida, contado na forma de parábola: “Em uma típica família que se declara cristã, composta de um pai, uma mãe e seus três filhos, somente a mãe e o filho mais novo vão todos os Domingos à Santa Missa; se confessam regularmente; rezam com freqüência o Santo Terço; meditam em seus corações a Palavra de Deus; e anunciam o Reino de Deus em seus trabalhos pastorais na Paróquia onde vivem. O pai e os outros dois filhos são apenas católicos de fachada e cumprem algumas obrigações cristãs quando lhes é conveniente. Nas refeições em família e em outros momentos quando todos estão reunidos, a mãe e o filho mais novo são praticamente proibidos de falarem sobre religião e de comentarem o Evangelho do dia, ou alguma graça que alguém da comunidade recebeu, ou ainda alguma declaração do Papa ou alguma pregação que tocou profundamente os seus corações. Assistir a algum canal católico em família, nem pensar. Enquanto a mãe e o filho mais novo assistem a Canção Nova em uma pequena televisão no quartinho dos fundos, o pai e os outros filhos assistem a seus filmes e as suas partidas de futebol na televisão grande da sala.
E eis que um dia durante a Ceia de Natal, o filho mais novo, tocado pela graça de Deus que recebeu da comunhão eucarística na Missa do Galo, rompe o diabólico silêncio que imperava na família e anuncia Jesus Cristo com coragem e parresia diante de seu pai e seus irmãos. Naquela noite de Natal o filho mais novo teve uma forte experiência de martírio, sendo humilhado e escarnecido pelo pai e os irmãos. Até mesmo a sua mãe não o defendeu e após o término da Ceia o repreendeu, alegando que ele estava sendo inoportuno ao falar de Jesus durante a Ceia de Natal. Que triste ironia não poder falar de Jesus no dia em que a Igreja celebra solenemente o Seu nascimento; mas essa é uma verdade cada vez mais presente em muitas famílias que se dizem cristãs. E não é justamente a realidade que vivenciamos em nossa família?”

Muitos de nós agimos como essa mãe da parábola, que teve medo de testemunhar sua fé perante aqueles que não acreditavam. E quando agimos assim é sinal de que ainda não amadurecemos na fé e vivemos ainda uma fé infantil e imatura que não é capaz de se traduzir em frutos de santidade em nossas vidas.

Que Nossa Senhora, auxilio dos cristãos, aquela que sempre foi fiel ao seu Filho Jesus Cristo, interceda por nós para que também sejamos fieis ao Senhor nos momentos de dura provação. Amém!!!

 

 

Autor: Flavio Cividanes de Quero
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