A inversão de valores
21/07/15

 

O nosso querido Papa Francisco em várias ocasiões denunciou profeticamente a cultura do descartável que predomina em nossa sociedade secularizada e paganizada, que é marcada fortemente pelo consumismo e pelo hedonismo. Nesse triste contexto social em que vivemos, a vida humana é cada vez menos valorizada e podemos até dizer que se estabeleceu em nosso meio uma mentalidade utilitarista, onde os relacionamentos entre as pessoas são cada vez mais superficiais e interesseiros, e as pessoas passam a valer apenas pela utilidade que possuem. Quem não produz acaba sendo deixado de lado à margem da sociedade; pois para essa diabólica lógica só merece viver dignamente quem pode ter alguma utilidade ou que produza algo de bom para o bem estar da sociedade.

Assim, são descartados os idosos, os jovens e as crianças, especialmente os nascituros. Daí podemos entender porque tantos governos, organizações e corporações capitalistas desejam a descriminalização do aborto e da eutanásia, e porque tantos casais não desejam mais ter filhos e preferem cuidar do cachorrinho ou de outro animalzinho de estimação. Muitos casais pensam que cuidar de um filho gera muitas despesas e requer muito desprendimento, o que os impediria de ganharem mais dinheiro ou de viajarem para Paris ou fazerem um cruzeiro marítimo.

Muitas mulheres inclusive renunciam à maternidade só para não perderem a promoção no emprego ou para fazerem sua “tão sonhada” pós-graduação e se vangloriarem de seus títulos acadêmicos e de sua “igualdade” com os homens. Até mesmo o casamento é deixado para segundo plano, pois pode representar um obstáculo para a ascensão social.

Por outro lado, muitas empresas com má índole não admitem em seus quadros de funcionários mulheres grávidas e fazem pressão para que não engravidem, correndo o risco de perderem o emprego. Até mesmo em muitas famílias que se dizem cristãs, onde o amor ao dinheiro se tornou a regra suprema, uma gravidez indesejada de uma filha, por exemplo, pode se tornar um grande obstáculo que deve ser descartado, e assim sujam de sangue inocente as suas mãos, muitas vezes as mesmas mãos que se estendem para receber o Corpo de Cristo na Eucaristia.

Sim, meus irmãos, até mesmo pessoas religiosas, ao menos na aparência, entraram nessa perversa lógica dominante, onde o dinheiro, o poder e o prazer se tornaram a regra suprema de suas vidas. Aparentemente são bons cristãos, mas interiormente são verdadeiros demônios ávidos por dinheiro e prestígio. De falsos irmãos como esses, infelizmente, nossas comunidades cristãs estão cheias. Abandonaram a fé e caíram na idolatria. Que nós também não caiamos nessa tentação demoníaca.

No Evangelho de São Lucas temos uma emblemática passagem que ilustra muito bem essa cultura do descartável que predomina em nossa sociedade contemporânea, mostrando que esse mal já existe há muito tempo e remonta ao pecado original nos primórdios da humanidade. No episódio do possesso de Gerasa onde Jesus realiza um grande exorcismo expulsando uma “Legião” de demônios de um pobre homem que vivia no cemitério como um mendigo andarilho (conf. Lc 8, 26-39), percebemos que aquela comunidade pagã da Decápole tratava aquele possesso como se fosse um animal perigoso e que devia ser mantido à distância, longe do convívio social, chegando inclusive a acorrentá-lo.

Ninguém se importava com aquele atormentado homem, que numa lógica mundana, não possuía nenhuma serventia. Pelo contrário, para os gerasenos aquele homem era um estorvo que deveria viver longe da sociedade e ser tratado como um bicho selvagem, ou melhor, dizendo, deveria ser tratado muito pior que um bicho selvagem.

Ao mesmo tempo, os gerasenos pareciam tratar muito bem dos seus animais domésticos, especialmente daqueles que lhe davam algum lucro, e que numa lógica mundana, tinham alguma serventia.

Enquanto os habitantes de Gerasa não se importavam com o sofrimento daquele homem possesso, eles davam grande importância ao seu rebanho de porcos, pois os porcos tinham para eles uma grande importância financeira.

Nosso Senhor Jesus Cristo ao realizar esse exorcismo inverte a lógica das coisas, e a pedido dos próprios demônios que atormentavam por tantos anos aquele pobre homem, envia-os aos porcos que se precipitam nas águas do lago de Genesaré e morrem afogados. E o povo ao ficar sabendo disso pede para Jesus ir embora daquele lugar.

Aquele povo pagão, que vivia na idolatria, não suportou a presença de Deus no meio deles, e diante de tão grande teofania, isto é, diante de tão grande manifestação de Deus no meio deles, pedem amedrontados para Jesus ir embora.

Não compreenderam o gesto de Jesus que libertou aquele homem possesso devolvendo-lhe a dignidade de pessoa humana, e preferiram viver nas trevas do pecado e da idolatria ao invés de aceitarem a luz de Deus que chegava até eles na Pessoa Divina de Nosso Senhor Jesus Cristo.

Assim como os habitantes da Gerasa dos tempos de Jesus, a nossa sociedade moderna contemporânea se tornou uma sociedade idólatra, que faz do dinheiro o seu “deus”, sacrificando no seu “altar” inúmeras vidas humanas, especialmente as mais frágeis e indefesas.

Podemos concluir essa breve reflexão, que analisa a nossa realidade à luz da Palavra de Deus e da fé, que os valores de nossa sociedade atual estão completamente invertidos; pois para muitas pessoas a vida de um cachorro ou de um gato vale mais que uma vida humana. É muito triste termos chegado a esse ponto, onde a vida humana se tornou um mero acessório que eu posso descartar a meu bel-prazer, assim como eu descarto uma latinha de refrigerante vazia.

Uma ativista dos “direitos dos animais” ao ser entrevistada por um famoso jornal televisivo, chegou ao extremo de dizer que não poderia escolher entre a vida de seu filho e a de seu cachorro de estimação. Para a maioria das pessoas ainda, uma afirmação fundamentalista e irracional como essa pode parecer um absurdo, mas ela já reflete a enfermidade moral em que vivemos.

Existe em muitos movimentos sociais, financiados por grandes corporações capitalistas, uma ferrenha oposição à ordem natural da Criação querida e estabelecida por Deus, que se manifesta em um ódio irracional contra a vida humana, a família tradicional e as liberdades fundamentais, como a liberdade religiosa, por exemplo.

E esse ódio irracional e diabólico se torna visível em declarações infelizes como dessa ativista “petmaníaca”, que infelizmente possui uma “Legião” de seguidores.

E quem pensa que somente esses fanáticos extremistas de algumas ONGs é que perverteram os valores de nossa sociedade, está muito enganado. Esses infelizes extremistas são apenas as maiores vítimas dessa ideologia dominante. Essa inversão de valores já está fortemente enraizada em nossa cultura e muitos de nós sem perceber já aderiu a essa onda politicamente correta que assola a nossa sociedade.

Quando vemos em algumas pequenas cidades mais clínicas veterinárias do que clínicas que cuidam de pessoas, não está aí um sinal de alerta de que algo está errado? Enquanto tantos gastam milhares de reais com seus cães, muitas pessoas não têm acesso a um sistema de saúde decente e sofrem nas mãos de maus médicos e nos corredores de hospitais públicos superlotados. Enquanto tantos pais de família desejariam pagar um plano de saúde para seus filhos, existem madames cocotas que pagam caríssimos planos de saúde para seus cachorrinhos. E quantos pais irresponsáveis e inconseqüentes que enchem suas casas de cachorros, gatos, tartarugas e papagaios tornando o ambiente desumano, fétido e sujo, e expondo seus filhos a esse tipo de degradação ambiental?

Muitos animais são tratados com mais amor e carinho do que as pessoas da própria família, e isso já não é mais exceção. Até mesmo nomes de pessoas são dados aos animais de estimação e ninguém mais se escandaliza com isso.

É claro que devemos tratar bem os animais e lhes dedicar carinho e atenção, mas o que está acontecendo é uma total inversão de valores, onde a vida humana não é mais respeitada e está perdendo totalmente o seu valor e a sua sacralidade.

O Papa Francisco escreveu recentemente uma belíssima encíclica intitulada “Louvado sejas”, de cunho sócio-ambiental, que trata também desse assunto, além de tratar da questão do cuidado de nossa casa comum, a mãe Terra. Todo cristão e pessoas de boa vontade deveriam ler esse revolucionário ensinamento do Magistério da Igreja, que tem muito a contribuir para o futuro da humanidade e de nosso planeta.

Que Nossa Senhora, a Rainha das Famílias, interceda por nós nesse tempo conturbado em que vivemos, para que sejamos sempre fiéis a se Filho Jesus Cristo e obedientes aos ensinamentos da Santa Mãe Igreja. Amém!!!

 

Autor: Flavio Cividanes de Quero
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